domingo, 2 de outubro de 2011

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA - CAP I


A PSICOLOGIA DA SOBREVIVÊNCIA
Ninguém consegue estar sempre completamente preparado para uma situação de sobrevivência. Se tiver sorte, poderá ter acesso a um equipamento de sobrevivência, a uma espingarda ou a um machado. Se for esperto, será já muito versado nos conhecimentos e técnicas que serão descritos neste manual. Mas, independentemente da sorte e dos conhecimentos que possa ter, encontrarem-se subitamente isolado numa área desolada do mundo é um choque para o sistema humano como um todo - não só emocional e mentalmente, mas também fisicamente. É importante compreender a psicologia da sobrevivência, bem como as suas técnicas.

A vontade de sobreviver
Os corredores de fundo e meio-fundo falam de «O Urso» que os obceca. Após ter percorrido escassas centenas de metros, o corredor perde a passada, abandona a posição típica de corredor e começa a abrandar de maneira evidente. Dominado pela dor, ou pelas cãibras, ou pela fadiga, perdeu a vontade de vencer. Em situações de sobrevivência sucede muitas vezes o mesmo fenômeno, só que neste caso a questão é muito mais importante que ganhar ou perder uma prova de atletismo. Há casos registrados de pessoas que foram recuperadas e tratadas de todas as doenças e que, depois, morreram no hospital. Tinham perdido a vontade de viver. As experiências de centenas de militares isolados em combate na segunda guerra mundial, na Coréia e no Vietnã me demonstram que a sobrevivência é, fundamentalmente, uma questão de perspectiva mental. A vontade de sobreviver é o fator mais importante. Quer esteja integrado num grupo ou sozinho, experimentará problemas emocionais derivados do choque, do medo, do desespero e da solidão. Para além destes perigos mentais, a lesão e a dor, a fadiga, a fome ou a sede pesam na vontade de viver. Se não estiver mentalmente preparado para vencer todos os obstáculos e esperar o pior, as hipóteses de sair com vida são grandemente reduzidas.

Onde o espírito comanda
Entrevistas com milhares de sobreviventes dos campos de concentração alemães da segunda guerra mundial demonstraram a extraordinária capacidade de resistência do corpo humano quando guiado pelo espírito. Os nossos corpos são máquinas muito complexas, mas, mesmo quando submetidos às mais confusas e degradantes condições, a vontade de viver pode sustentar o processo da vida. As necessidades do corpo em energia proveniente dos alimentos podem ser reduzidas praticamente a zero durante um dado período de tempo. Sobreviventes dos campos de concentração alemães referiram que a vida, mesmo sob condições inumanas, valia a pena ser vivida. Em muitos casos, apenas este espírito lhes garantiu a sobrevivência.

Preparação
Uma preparação adequada pode dar à vítima uma forte proteção psicológica tendo em vista a ultrapassagem da sua situação de sobrevivência. Embora não se espere vir a estar numa tal situação, podem prever-se certas condições que aumentam, dramaticamente, a sua possibilidade. Se está a preparar-se para ir acampar, dar um longo passeio a pé ou dar uma volta num pequeno avião ou barco, as probabilidades de vir a colocar a sua vida numa situação in extremis estão aumentadas. Os tópicos que se seguem não são apenas bons conselhos, porquanto, se forem seguidos, oferecem um forte apoio psicológico em condições de sobrevivência:
1) Prepare um equipamento de sobrevivência (ver apêndice II) e leve-o consigo em qualquer viagem que ofereça, mesmo que remotamente, a possibilidade de ficar encalhado ou isolado.
2) Se é proprietário ou viaja regularmente num pequeno avião, barco ou veículo de recreio, conserve uma cópia deste manual no compartimento das luvas ou na caixa das ferramentas.
3) Se costuma fazer longas caminhadas ou acampar, leve uma cópia deste manual na mochila.
4) Meta na cabeça tanta informação deste manual quanta conseguir. 0 conhecimento das técnicas de sobrevivência dá confiança e esta levá-lo-á a controlar o ambiente de sobrevivência.

Pânico e medo
Quase todos os que se viram perdidos, isolados e separados da civilização experimentaram medo - medo do desconhecido, medo da dor e do desconforto, medo das suas próprias fraquezas. Em tais condições, o medo não é apenas normal, é também saudável. 0 medo aguça-nos os sentidos e leva-nos a potenciar os perigos e os riscos. 0 medo é o aumento natural da adrenalina existente em todos os mamíferos e que atua como um mecanismo de defesa contra o que é hostil ou desconhecido. Mas o medo tem de ser dominado e convenientemente orientado, ou pode levar ao pânico. 0 pânico é a resposta mais destrutiva a uma situação de sobrevivência. Dissipam-se energias, a racionalidade é enfraquecida ou mesmo destruída e torna-se impossível dar qualquer passo positivo no sentido da nossa própria sobrevivência. 0 pânico pode levar ao desespero, o qual pode começar por quebrar a nossa vontade de sobreviver.
Podem ser dados, mentalmente, vários passos para fazerem do medo um aliado e tornarem o pânico uma impossibilidade. Como já referimos, a preparação e o conhecimento das técnicas de sobrevivência instilam confiança e levam não só ao autocontrole, mas também ao controlo do ambiente que nos rodeia. Além disso, é importante ocupar imediatamente o seu espírito com a análise da situação e com as tarefas imediatas de sobrevivência.

Sobrevivência
Situação. - Estou ferido? Quais as medidas de primeiros socorros de emergência que sou obrigado a tomar? Qual a situação dos outros membros do meu grupo quanto a ferimentos? Quais são os perigos imediatos? Há algo da situação anterior à atual que me diga onde estou e qual a melhor maneira de sobreviver? Estou perto de água? Comida? Quais as condições meteorológicas e de terreno? Que é que há à minha volta que me possa ajudar a sobreviver?

Urgência indevida é desperdício. - Não se apresse sem objetivo ou direção. Sem estar completamente inteirado da situação, é importante conservar as energias. Em condições de sobrevivência, a energia é mais preciosa que o tempo (exceto em emergência médica). Não se empenhe em atividades físicas até ter um plano e tarefas específicas a realizar. As atividades inúteis podem criar uma sensação de desamparo que poderá conduzir, posteriormente, ao pânico.

Reconheça o local onde se encontra. - Muito provavelmente, terá de forragear e deslocar-se a alguma distancia da sua posição inicial. A familiarização dá segurança, e nada há mais prejudicial numa situação de sobrevivência que «perder» o seu ponto inicial ou acampamento. Tome nota das imediações, das características topográficas fora de comum, etc., e fotografe-as na memória. Quando sair do acampamento, assinale o trilho para poder regressar pelos seus próprios passos. Por mais desamparado e isolado que possa estar, há-de estar em «algum sitio». Saber onde está, mesmo que apenas em referencia às imediações, aumentará as suas hipóteses de ser recolhido.

Vença o medo e o pânico. - A recordação consciente da forca debilitante do medo ou do pânico pode diminuir-lhes o perigo. Adote uma «atitude de pausa» e, objetivamente,  os resultados.

Improvise. - Qualquer que seja o local onde possa vir a encontrar-se, haverá algo, provavelmente muita coisa, no seu raio de ação imediato que o auxiliará a sobreviver. Quanto mais inventivo e criativo for, tanto mais confortável se tornará a sua situação. 0 seu quadro de referencias tem de ser alterado. Uma árvore deixa de ser uma árvore e transforma-se numa fonte potencial de comida, de combustível, de abrigo e de vestuário. Familiarize-se com as imediações. Tal como numa ilusão de óptica, o espírito transformará milagrosamente os objetos naturais em instrumentos de sobrevivência.

Valorize o viver - 0 instinto de sobrevivência é básico no homem e no animal e tem constituído a base da maior parte das revoluções culturais e tecnológicas através da história. Em condições extremas, a vontade de sobreviver pode ser posta duramente à prova. Se perder a vontade de viver, todo o conhecimento sobre técnicas de sobrevivência será inútil. Não corra riscos desnecessários. Você é a chave da sua própria sobrevivência, e atitudes loucas dão lugar a ferimentos ou a algum tipo de incapacidade que lhe limitarão a eficiência.

Atue como os nativos. - Pode encontrar gente em muitas áreas do mundo afastadas da civilização. Normalmente, os grupos tribais e de nativos primitivos não são hostis; contudo, aproxime-se deles com cautela. Eles conhecem o território: onde encontrar água, zonas de abrigo, alimentação, o caminho para a civilização. Tenha cuidado para não os ofender. Eles podem salvar-lhe a vida. Para conseguir auxilio dos nativos, siga a seguinte orientação:

1) Deixe que sejam os nativos a fazer o contacto inicial. Entenda-se com o chefe reconhecido para obter o que for necessário.
2) Mostre amizade, cortesia e paciência. Não se assuste; não exiba armas.
3) Respeite os usos e costumes locais.
4) Respeite-lhes a propriedade pessoal.
5) Na maior parte das culturas tribais, o homem é dominante. Como regra geral, procure evitar o contacto ou a comunicação direta com os membros femininos da tribo.
6) Aprenda com os nativos a usar a floresta e a obter comida e bebida. Peça-lhes conselho sobre os perigos locais.
7) Evite o contacto físico, a menos que lhe dêem a impressão de que o deve fazer.
8) Normalmente, o papel-moeda não tem valor, mas as moedas - bem como fósforos, tabaco, sal, lamina de barbear, embalagens vazias ou vestuário- podem ser artigos de troca valiosos.
9) Deixe boa impressão. Outros podem vir a ter necessidade deste auxílio.

Lembre-se das técnicas de sobrevivência. - Este volume diz-lhe como executar as técnicas básicas. Mas aprender é fazer. Quanto mais vezes repetir as tarefas e as técnicas básicas, tanto mais exímio será ao executá-las. A sobrevivência é uma atitude mental positiva para consigo e para com o seu ambiente. Depois da análise dos tópicos indicados anteriormente, terá já estabelecido uma orientação para as suas ações de sobrevivência e para algumas tarefas que valem a pena ser executadas.

Solidão e aborrecimento
A solidão e o aborrecimento são os meios-irmãos do medo e do pânico. Ao contrário deste último, não surgem súbita e furiosamente, mas lenta e desapercebidamente, normalmente depois de se terem executado todas as tarefas básicas de sobrevivência e de as necessidades básicas - água, comida, abrigo e vestuário - terem sido satisfeitas. A solidão e o aborrecimento podem conduzir à depressão e minarem a vontade de sobreviver.
O antídoto psicológico para a solidão e para o aborrecimento é o mesmo que para o medo e o pânico: manter o espírito ocupado. Estabeleça prioridades e tarefas que minimizem o desconforto, melhorem as possibilidades de recolha e preparem a sobrevivência para um extenso período de tempo. Considere as emergências inesperadas, embora possíveis, como operações de contingência e conceba planos e tarefas para lhes fazer frente. Estabeleça um programa. Um programa não é apenas uma forma de segurança; ocupa o espírito com as tarefas a executar. Fixe tarefas de longa duração, tais como a construção de um abrigo «permanente» e outras que têm de ser repetidas todos os dias, tal como escrever um diário. A solidão e o aborrecimento apenas podem existir na ausência de um pensamento e ação positivos. Numa situação de sobrevivência há sempre imenso trabalho que precisa ser executado.

Sobrevivência em grupo
A dinâmica de grupo pode ser quer uma ajuda, quer um risco para a sobrevivência individual. Obviamente, há mais mãos para executarem as tarefas necessárias e o contacto com outros seres humanos pode ser um apoio psicológico. Contudo, uma corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco e as dificuldades de sobrevivência podem ser multiplicadas pelo número de pessoas que se encontra mergulhado nelas. A sobrevivência do grupo também introduz um fato adicional potencialmente destrutivo: a discórdia. A discórdia tem de ser evitada a todo o custo. Tal como as relações individuais as situações de sobrevivência se tornam automáticas, também o mesmo tem de suceder com as do grupo. 0s grupos (tais como secções e pelotões) que trabalham em conjunto e possuem chefes que assumem as suas responsabilidades têm melhores possibilidades de sobreviver. Se não houver chefe designado, elejam um. Se o seu grupo tomar em consideração os pontos a seguir indicados, as possibilidades de regresso ao seio dos elementos amigos serão grandemente aumentadas:
1) Organizem as atividades de sobrevivência do grupo.
2) Reconheçam um chefe. 0 chefe deve atribuir missões individuais e manter o grupo informado sobre as atividades globais para a sobrevivência.
3) Desenvolvam no seio do grupo um sentimento de mútua dependência.
4) Sempre que possível, o grupo deve tomar decisões sob a direção do chefe. De qualquer modo, qualquer que seja a situação, o chefe tem de decidir e as suas ordens têm de ser acatadas.
Finalmente, saiba que o grande teste à sua vontade e perseverança ocorrerá depois de estar quase recolhido - quando vir o avião ou o navio, mas ninguém a bordo der por si. Sentirá então um baque de depressão e de desespero. Mas não sucumba. Onde há um avião há mais. Se ele estiver a voar segundo um plano de busca, isso significará que alguém anda à sua procura. Agora o tempo é que orienta a sua energia e as técnicas de sobrevivência no sentido de ser visto na próxima vez. E haverá uma próxima vez. O lema da sobrevivência é: Nunca desistir.

4 comentários:

  1. Nossa como ficou bom. Agora posso terminar minhas pesquisas na área militar.
    Agradeço a publicação.

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  2. Obrigado pela postagem deste artigo porque ajudou-me muito em minha pesquisa...

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